Devo ser uma tonta...
Acredito sempre que existe um lado bom nas pessoas, acredito que elas mudam, acredito que tudo pode ser melhor...
Acredito e acredito. Sou uma tonta.
Porque a Vida só me traz sofrimento,e a única coisa que consigo fazer é sorri-lhe, com toda a esperança de um coração magoado.
Agora, acho que conseguiste o que querias Vida.Não consigo sorrir-te de volta...
Impuseste os teus pesados pés sobre mim, a realidade e a dor.
Agora, a culpa de já não acreditar, a culpa de já não ser quem era, de ter perdido aquela parte que me fazia, pura e simplesmente, eu, a culpa disso não é minha, é tua Vida!
Foste a professora implacável que me obrigou a aprender as suas mais duras lições.
E mesmo que uma réstia de mim, circule ainda pela minhas veias, nunca será a mesma coisa.
Tudo mudou. Já nada lhe pertence. O meu corpo é-lhe estranho. A pouco e pouco irá morrer.
Agora, deixei de ser tonta.
Estou perto do abismo.
Com os meus pés sobre a linha mortal que separa a dureza da vida da liberdade da morte.
Preparo-me para voar.
Por um momento, a força do medo percorre o meu corpo, e como num choque o meu pé recua.
E ao olhar para a minha vida vejo todos os seus erros, todas as suas angústias,e todos os seus fantasmas...
Sinto-me presa, preciso de me libertar.
E a coragem daquele pássaro negro que desafia toda aquela liberdade, desperta-me...
Não posso voltar! Enxuto todo o medo e lanço-me para a paz.
Sinto o vento a cortar a minha pele, a perfurar cada um dos meus músculos, chegando aos meus ossos, arrepiando-me...
E por fim, liberta a minha alma daquele corpo frio e vazio.
Agora, estou livre.
Sentes? Consegues senti-lo bater?
Fraco, ao ritmo de um passo lento...
Bate. Ecoa e enfraquece dentro de mim.
Vês? Consegues ver a lágrima que corre pela minha face?
que corre pelas feridas que se recusam a sarar,
que as faz arder quando lhes toca,
tornando-as vivas e frescas de novo.
Bate. Leve, sussurrando...
Ouves? Consegues ouvir o grito sufocado da minha voz?
As súplicas da minha alma presa a um corpo vazio.
Não se sente, não se vê, não se ouve...
Bate. Um silêncio. Não há resposta.
E deixa de bater.
O que fazer quando acreditar já não chega? quando a nossa força se quebra, quando o tudo que fizemos vale de nada, quando à nossa volta a terra se desmorona?
Ajuda-me.
Acreditei com toda a minha vontade, com toda a minha alma, com o músculo mais poderoso que bate dentro do meu peito. E no fim, para quê?
Afinal, dei tudo de mim e ainda mais, mais do que o meu bom senso permitia, mais do que a razão da minha consciência insistia em alertar, mais do que as faltas de actos que as tuas palavras careciam...
E agora? O que fazer quando as memórias estrangulam o meu coração? Quando a dor é tão grande e pesada que nem cabe dentro de mim?
O que fazer quando a única coisa que vejo ao espelho são as lágrimas que teimam em esgotar-me?
Deixei de acreditar, deixei de lutar. E agora?
