Por muito que bata,
bate em falso.
Por muito que bombeie,
nada corre.
Por muito que tente,
não sente nada.
Pobre coração...
É apenas mais uma caixa vazia,
de memórias perdidas,
de sonhos desfeitos,
e sentimentos estilhaçados.
E por muito que acredite,
não consegue encontrar-se.
Por muito que lute,
não há nada que possa ganhar.
Então, para quê guardar algo
que já não tem qualquer valor?

Não, hoje não quero tentar.
Hoje não quero continuar a andar pelos caminhos que não me levam a lado nenhum.
Passos secos e fracos por ruas onde ecoa o silêncio...
Não, hoje não consigo comandar os músculos desgastados do meu corpo que teimam em fraquejar.
Hoje não consigo manter o equilíbrio da minha alma em sobressalto.
Não vou mais tentar acreditar, não vou mais tentar seguir, não vou mais continuar a soprar sobre as feridas.
Hoje não...
E preferia ser apenas uma memória, um suspiro, a brisa fresca das ondas do mar.
Hoje, só hoje, queria poder fechar os olhos e pensar em nada, queria apenas sentir a paz de um dia de sol.
Hoje, só hoje, não quero mais ser eu...

"Mas porque é que tu existes?"
Sim, força. Faz-me essa pergunta. Como se eu quisesse responder, como se eu soubesse qual a resposta...
Não, não quero responder. E tinhas mesmo de a fazer logo agora?
Força! É como se eu já não me perguntasse isso a mim própria quase todos os dias, quase todos os momentos... Força, continua!  
Não, não sei qual a resposta. Não te sei dizer qual a razão da minha insignificante existência. Não te sei dizer porque respiro o mesmo ar que tu, porque te torturo apenas um minuto em cada dia da tua vida fantástica, porque nada do que faço parece certo, porque sou nada...
"Fogo. Porque existes?" 
E continuas a fazer a mesma pergunta, aquela que eu não quero responder, aquela que só de a ouvir já trespassa o peito... 
Desculpa, não te sei dar um motivo para um corpo e alma que caminham sem destino...
Preferia não existir. Assim poupava-te o cansaço de pensar no porquê da minha existência, poupava-te a tortura diária, poupava-te o nojo que é olhar para mim, e acima de tudo, poupava-me a mim... Desse modo já não sentia nada, nem desgosto nem dor. 
Respondo-te: "Não era bom se eu não existisse? Era maravilhoso." 

Devo ser uma tonta...
Acredito sempre que existe um lado bom nas pessoas, acredito que elas mudam, acredito que tudo pode ser melhor...
Acredito e acredito. Sou uma tonta.
Porque a Vida só me traz sofrimento,e a única coisa que consigo fazer é sorri-lhe, com toda a esperança de um coração magoado.
Agora, acho que conseguiste o que querias Vida.Não consigo sorrir-te de volta...
Impuseste os teus pesados pés sobre mim, a realidade e a dor.
Agora, a culpa de já não acreditar, a culpa de já não ser quem era, de ter perdido aquela parte que me fazia, pura e simplesmente, eu, a culpa disso não é minha, é tua Vida!
Foste a professora implacável que me obrigou a aprender as suas mais duras lições.
E mesmo que uma réstia de mim, circule ainda pela minhas veias, nunca será a mesma coisa.
Tudo mudou. Já nada lhe pertence. O meu corpo é-lhe estranho. A pouco e pouco irá morrer.
Agora, deixei de ser tonta.   

Estou perto do abismo.
Com os meus pés sobre a linha mortal que separa a dureza da vida da liberdade da morte.
Preparo-me para voar.
Por um momento, a força do medo percorre o meu corpo, e como num choque o meu pé recua.
E ao olhar para a minha vida vejo todos os seus erros, todas as suas angústias,e todos os seus fantasmas...
Sinto-me presa, preciso de me libertar.
E a coragem daquele pássaro negro que desafia toda aquela liberdade, desperta-me...
Não posso voltar! Enxuto todo o medo e lanço-me para a paz.
Sinto o vento a cortar a minha pele, a perfurar cada um dos meus músculos, chegando aos meus ossos, arrepiando-me...
E por fim, liberta a minha alma daquele corpo frio e vazio.
Agora, estou livre.

Sentes? Consegues senti-lo bater?
Fraco, ao ritmo de um passo lento...
Bate. Ecoa e enfraquece dentro de mim.
Vês? Consegues ver a lágrima que corre pela minha face? 
que corre pelas feridas que se recusam a sarar,
que as faz arder quando lhes toca,
tornando-as vivas e frescas de novo.
Bate. Leve, sussurrando...
Ouves? Consegues ouvir o grito sufocado da minha voz?
As súplicas da minha alma presa a um corpo vazio.
Não se sente, não se vê, não se ouve...
Bate. Um silêncio. Não há resposta.
E deixa de bater. 

O que fazer quando acreditar já não chega? quando a nossa força se quebra, quando o tudo que fizemos vale de nada, quando à nossa volta a terra se desmorona? 
Ajuda-me. 
Acreditei com toda a minha vontade, com toda a minha alma, com o músculo mais poderoso que bate dentro do meu peito. E no fim, para quê?
Afinal, dei tudo de mim e ainda mais, mais do que o meu bom senso permitia, mais do que a razão da minha consciência insistia em alertar, mais do que as faltas de actos que as tuas palavras careciam...
E agora? O que fazer quando as memórias estrangulam o meu coração? Quando a dor é tão grande e pesada que nem cabe dentro de mim?
O que fazer quando a única coisa que vejo ao espelho são as lágrimas que teimam em esgotar-me?
Deixei de acreditar, deixei de lutar. E agora?



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"believing it's only the beginning..."
acredita, luta, e segue o coração...

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"I never saw a wild thing sorry for itself. A bird will fall frozen dead from a bough without ever having felt sorry for itself."

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